Pai,
Você não está aqui hoje, mas ando pensando muito em você.
Esse ano nasceu uma menininha linda e especial. A ansiedade por ver o rosto
dela durou angustiantes nove meses. Mas quando eu olhei aquele rostinho pela
primeira vez, tudo o que passei valeu a pena.
Eu tenho certeza que você também
amaria ela, na primeira vez que a visse.
Eu te amo pai. Acho que eu devia falar muito isso para
você antes dos meus 10 anos, eu sempre estava contigo. Me perdoa por não ter te
lembrado disso durante a minha adolescência, quando as mágoas eram maiores do
que a coragem de assumir esse sentimento. Me perdoa por ter deixado de ser sua
amiga e ter se tornado apenas uma filha abusada e explosiva. Me perdoa por não
ter te contado meus segredos. Me perdoa por não ter te abraçado pai, mas eu
queria. Eu te amava.
Eu te amava quando alguém me contava que você estava
orgulhoso que eu havia passado para a faculdade. Eu te amava quando você
chorava arrependido. Eu te amava até quando você dizia coisas que me magoavam.
Eu te amava até quando você bebia e arruinava sua vida e a nossa também. Eu te
amava pai, eu sempre te amei.
O seu amor está aqui comigo mas você não. Minha filha
nasceu e você não pode vê-la. Eu vou fazer por ela tudo o que você fez por mim.
Acho que tudo o que você fez, me marcou de alguma forma né? Boa ou ruim. Mas de
qualquer jeito eu só queria sentir que você me amava também. Eu só queria ter a
certeza que eu era amada assim como eu tinha quando pequena. Era só isso que eu
queria.
Eu só to pensando em você pai. Eu queria que você me
ajudasse a trocar as fraldas dela, ou que me ajudasse a educá-la como você me
educou. Por incrível que pareça, eu queria que você desse sua opinião. Depois
que cresci, eu não concordava com ela,
mas eu só queria sua opinião agora. Eu só queria te contar que hoje ela sorriu
pra mim. E queria fazer ela sorrir pra você também. Eu queria tirar uma foto ao
seu lado, eu, ela e você. Você ,apesar de tudo, foi um pai maravilhoso e seria
um avó fantástico.
Hoje, eu entendo como é o amor de um pai. Hoje eu entendo
que por mais que você não me falasse, você me amava. Você deve ter me amado
muito, pai. Você teve uma vida sofrida, perdeu seu pai cedo, teve que trabalhar
para ajudar a sua mãe. Você me deu o melhor que tinha, o melhor que podia. Você
me deu amor de pai, coisa que você nem mesmo pôde ter. Hoje, eu como mãe falo,
eu devia ter quebrado o gelo e deveria ter falado que te amava. Eu devia ir
contra o meu orgulho, minha mágoa, minha dor e ter te dado um pouco de felicidade
ao dizer que te amo. Eu devia ter te beijado e te abraçado mais. Eu tinha que
ter sido mais paciente. Ah pai, eu devia ter feito tantas coisas. Mas você
também poderia ter feito mais.
Você morreu, pai. É tão triste saber que você não está
mais aqui. É tão triste saber que não posso te falar isso tudo. Será que você já
quis dizer que me amava como eu quero neste momento? Talvez um dia, eu também
passe problemas com minha filha. Talvez ela também não se sinta a vontade para
dizer que me ama mas eu sempre vou dizer que a amo. Uma hora ela também vai
falar. Nós dois erramos. Você escondeu seu amor por mim e eu escondi meu amor
por você. Nós nos amamos como dois apaixonados que tem medo de sofrer ao
confessar seu sentimento. Mas éramos apenas pai e filha, papai. Não devíamos ter
medo de amar.
Agora, eu olho pra minha filha e lembro de você. Eu
espero que um dia, eu possa te encontrar de novo onde você estiver. E te falar
o que eu quero tanto te falar agora: papai, eu amo você. Eu te amava antes, eu
te amo agora. Vou te amar depois.
Cada fez mas fico, apaixonado por seus textos.
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