Se você pensa que sabe; que a vida lhe mostre o quanto não sabe.
Se você é muito simpático mas leva meia hora para concluir seu
pensamento; que a vida lhe ensine que explica melhor o seu problema,
aquele que começa pelo fim.
Se você faz exames demais; que a vida lhe ensine que doença é como esposa ciumenta: se procurar demais, acaba achando.
Se você pensa que os outros é que sempre são isso ou aquilo; que a vida lhe ensine a olhar mais para você mesmo.
Se você pensa que viver é horizontal, unitário, definido, monobloco;
que a vida lhe ensine a aceitar o conflito como condição lúdica da
existência.
Tanto mais lúdica quanto mais complexa.
Tanto mais complexa quanto mais consciente.
Tanto mais consciente quanto mais difícil.
Tanto mais difícil quanto mais grandiosa.
Se você pensa que disponibilidade com paz não é felicidade; que a
vida lhe ensine a aproveitar os raros momentos em que ela (a paz) surge.
Que a vida ensine a cada menino a seguir o cristal que leva dentro,
sua bússola existencial não revelada, sua percepção não verbalizável das
coisas, sua capacidade de prosseguir com o que lhe é peculiar e
próprio, por mais que pareçam úteis e eficazes as coisas que a ele, no
fundo, não soam como tais, embora façam aparente sentido e se apresentem
tão sedutoras quanto enganosas.
Que a vida nos ensine, a todos, a nunca dizer as verdades na hora da
raiva. Que desta aproveitemos apenas a forma direta e lúcida pela qual
as verdades se nos revelam por seu intermédio; mas para dizê-las depois.
Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la.
Arthur da Távola (fragmentos)
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