quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Te vejo assim



Te vejo assim, sem blusa fumando um cigarro na janela do seu quarto olhando a escuridão do céu. Já são quase duas da manhã e eu tenho que ir embora. Mas não quero. Foi tudo tão bom, tão especial, tão interessante, mas sei que quando acordar amanhã de manhã vou ter me arrependido do que fiz. Ou talvez o arrependimento só apareça em uma terça feira entediante. Só que hoje ainda é sexta. E eu te vejo assim, na janela, na cama, na cozinha, no bar, na Lapa. Me vejo assim, pensando em você e em como posso talvez ter estragado tudo sem ter ao menos começado. E eu sei que talvez eu vá me arrepender e só eu sei, o quanto todas as noites eu vou me lembrar desse dia e imaginar como poderia ter sido se tudo fosse diferente.
Será que você vai me procurar?
Como me procurou tão rápido naquele domingo, em que eu perdida da minha amiga estava parada olhando em volta sozinha e seu amigo me apresentou a você. Como me convidou tão rápido para tomar um chopp e eu que nem gostava de cerveja, aceitei só para te conhecer. Eu, com aquele medo de você não aparecer (mas por que não apareceria?) fui sentindo um iceberg na barriga. Lá estava você. Com todas as características de um cara perfeito e um genro maravilhoso. Um sorriso de arrebatar qualquer coração. E eu ao seu lado tentando me esconder dos olhares que se perguntavam o que eu estava fazendo ao seu lado.
Em meio a toda aquela conversa, a toda nossa sincronia e a todas as suas características explicitamente vibrantes, eu fiquei imaginando como eu era sortuda de estar podendo viver aquele momento. Em meio a toda essa pesada e inebriante lembrança, eu já imaginei todo o nosso inventado futuro que não irá acontecer e nem parecer que vai a ponto de me dar esperanças. Mas, tudo foi tão bom e tão eterno enquanto durou. Seu cabelo bagunçado. Você andando sem blusa pela casa. Um cerveja gelada naquele dia insuportavelmente quente. Eu, você e seu cigarro na janela pós-sexo. Você e eu na sua cama nos primeiros momentos do meu aniversário. Nós dois deitados ouvindo alguma música desconhecida tocando no rádio.
Eu sei o seu nome e algumas coisas sobre a sua vida, mas queria saber muito mais. Queria te ver em chegar cansado do trabalho, ouvir sua voz no telefone, caminhar de mãos dadas rente ao mar, sentir o teu cheiro, saber seus segredos e te beijar na chuva.
Tudo pode ser diferente?
Te vejo assim, encostado na pia e me puxando para perto e percebo que não teria como ser de outro jeito, já está sendo, já foi. Talvez não tenha sido como o planejado por cada um de nós, mas foi como tinha que ter sido. Fui feliz com você. Não para sempre, mas por um momento eternizado. Às vezes penso em voltar atrás, mas e ai como seria? Talvez eu nunca tivesse a lembrança confusa dos minutos em que fomos um só.
Eu pensei, pensei e pensei. E continuei pensando entre a sexta em que te vi e a quinta em que cansei de pensar em você. Li tudo o que já escrevi e recapitulei tudo o que penso sobre mim, sobre a vida e sobre todas as outras coisas. E percebi. Percebi que a vida é cheia dessas histórias com gosto de quero mais e vontade de que tenha continuação. E essa é justamente a graça de tudo. Viver novas experiências, amar alguém em uma noite, viver uma linda história em alguns dias, eternizar um momento, aprender com os erros, aceitar o que já foi feito, não se arrepender do que já foi vivido, sentir falta do que já foi, imaginar o que podia ter sido e guardar para sempre aquele olhar cheio de sentimento.
E em mais uma noite, eu aprendi uma lição para a vida toda. Tudo o que começa rápido, acaba na mesma velocidade. Mas fica no coração com a mesma intensidade.
A vida é assim, continuar vivendo, sem se arrepender ou olhar para trás.

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