terça-feira, 9 de abril de 2013

Eu queria te contar



Olá mãe, 

É estranho eu te escrever essa carta. É mais estranho ainda eu precisar escrever para conseguir conversar sobre esse assunto com você. Tudo isso é muito estranho. A nossa relação é estranha. Mas mesmo sendo tudo tão estranho, eu gosto de você assim, estranhamente. Você acredita? Acredita nisso mesmo depois de tantas brigas e de tantos desencontros?
Eu sempre quis que você fosse diferente, mãe. Eu sempre quis poder conversar abertamente com você. Eu sofria toda vez que eu tinha que mentir ou omitir algo de você. Eu queria te contar, mãe. Você acredita? Eu tive que procurar outras pessoas para responder minhas dúvidas e me dar aquele colo de mãe que você não me deu. Eu sempre quis saber como era poder se sentir seguro no abraço de uma mãe. Esperei anos por uma iniciativa sua e adivinha? Nada. Você não fez nada. Você estava ao meu lado todo dia mãe, mas ao mesmo tempo tão distante.
Você teve uma grande participação em tudo isso que aconteceu, mãe. Não que eu queira por a culpa que é minha em alguém, mas alguns erros meus foram reflexos dos seus. Faltou conversa, amizade, cumplicidade. Eu ainda lembro o quanto eu queria que você fosse melhor. O quanto eu queria que você fosse como a mãe das minhas amigas. Quando a gente é novo, é difícil aceitar que mãe e pai também é ser humano como a gente, que erra o tempo inteiro. Foi tudo tão complicado. Você não estava lá pra me ensinar. Eu aprendi a aprender tudo sozinha e da minha maneira.
Eu me decepcionei com tudo mãe. Contigo, comigo, com os outros, com o mundo. Eu tive que aprender sozinha e da pior maneira, quebrando a cara por ai. Eu tive que aprender a me olhar no espelho e me orgulhar do que eu sou mesmo querendo mudar tudo. Eu tive que aprender a parar de chorar porque não dá pra consertar o que já aconteceu. Eu fiquei revoltada mãe. Eu ainda sou revoltada. Talvez nunca deixe de ser. Mas eu já aprendi a lidar com isso, como aprendi com tantas outras coisas antes. Você errou, eu errei e espero que esse ciclo vicioso termine por aqui.
E é aqui nessa carta que eu termino com isso. Tá tudo esquecido, desculpado. Eu não me perdoava pelos meus erros, pelo jeito que eu agi, pelas feridas que me causei. Eu não me perdoava por não ter sabido viver direito.  Eu me perdoei, agora te perdoo. Eu to esquecendo de tudo isso. Quero viver sem essa culpa, sem essa mágoa. Quero seguir em frente, livre. Eu sou durona, eu digo que não, mas se você se esforçar pela primeira vez, eu juro que ainda dá tempo para mudar um pouco a situação. Por favor mãe, não deixe mais tempo passar. Eu tenho medo de um dia ser tarde demais.
Isso que eu escrevi mãe, é sobre aquele assunto que nenhuma de nós quis falar ou admitir: que mesmo sendo mãe e filha, nunca fomos amigas. Ainda dá tempo de ser? Eu quero dar uma chance pra nós. Eu vou tentar ser melhor, espero que você tente também. Quem sabe uma hora, a gente consiga se entender. Pra você ser minha amiga e mãe.

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